segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Quem é de verdade?

Me ofereceram determinadas substâncias e disseram que iriam me ajudar. Seria pagar para respirar? Seria pagar para apagar?

Me ofereceram uma alternativa e disseram que é assim mesmo, que o peso é grande. Seria assumir as fraquezas? Seria o tratamento contra um mundo doente?

Onde reside esse mal todo? Não seria só passar por cima? E se a dosagem for demais?



A falta de diagnóstico em tudo aquilo que nos envolve é exatamente o que nos faz doente.

Então a gente passa por maluco quando na verdade o problema é a falta de estômago para essa corrosão ambulante que nos cerca, nos enoja, nos leva ao coma para que depois peçam que desliguem os aparelhos.

É como te matam fazendo parecer normal. É quando se livram de você para o derramar de falsas lágrimas.

Doente é o mundo. Doente são as vidas de faz de conta. Doente é quem finge entender, finge aceitar, finge ser parte do esquema, sendo aquilo que querem que você seja.

Quem é de verdade?

SLSJR

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Outro Lugar

Outro Lugar

Retalhos busquei para me remendar
Preencher partes que deixei para trás

Costuras usei para disfarçar buracos
Seguir sem aquilo que não volta mais

No rosto pintei sorrisos
Maquiagem era preciso
E assim ninguém nem percebeu

Que na verdade eu morri
Mas também sobrevivi
E acordei sem saber o que me aconteceu


Olhei pra trás, nada encontrei,
Buscando o que nem eu mesmo sei

Não tenho casa, não tenho lar
Talvez eu me encontre em outro lugar

Olhei pra trás, nada encontrei,
Buscando o que nem eu mesmo sei

Não tenho casa, não tenho lar
Talvez nem aqui nem lá seja pra ficar

(slsjr)
#apartirdeuminstante

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Passos incertos


Com quem falar sobre o que passou?
O que dizer sobre o que restou?
Foi uma peça que não permitiu ensaios.
Como entender o que não foi lido?
Qual a interpretação para o que não foi escrito?
Foi um filme sem edição para o final.
Aquele chão se abriu e uma cratera surgiu a engolir tudo que ali se encontrava.
Tudo se foi num click, num tempo breve, mas que se estendeu por infinitos dias.
Quantos fantasmas, quantos questionamentos, quantos dias cheios de nada. 
Aquele mar se mostrou feroz, revolto, proporcionando um naufrágio, misturando-se a lágrimas de um temporal que encharcou todo terreno, deixando os passos incertos, escorregadios, falsos e sem direção.

(slsjr)
#apartirdeuminstante

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Cicatrização


A cicatrização foi lenta e muitos curativos foram utilizados de forma paliativa. Ao longo dos meses, várias doses de diversos medicamentos não convencionais foram administradas. A morfina da vida se fazia presente em sessões que minimizavam, mesmo que temporariamente, o estrago.

O sangue foi derramado e estancado muitas vezes. A febre dava sinais de que o corpo estava doente e gritando. Faltava ar, faltava caminhar, faltava olhar em volta e perceber outros caminhos. 

O tratamento parecia não resolver a vulnerabilidade de forma definitiva. Foram altos e baixos cercados de maquiagem e assim poucos poderiam enxergar de fato o que retratava aquele semblante.

Havia um mar de lama. Eram decepções em cadeia e uma sequência de perguntas sem resposta. Havia uma única opção. Era não voltar, estando cada vez mais distante. Foi quando aquela ópera aparentemente interminável parou de tocar.

Após meses um novo dia amanheceu, o ar deixou de ser rarefeito, a ferida virou apenas cicatriz e uma nova canção tocou.

Cicatrização (slsjr) 
#apartirdeuminstante

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Escolhas cegas


Os sinais se mostram, mas muitas vezes os ignoramos.
Os avisos chegam e fingimos não perceber.
Acreditar apenas no que se quer acreditar é, de fato, menos dolorido e mais fácil.
Protege e nos mantem no mundo perfeito e imaginário do qual não se quer sair por incertezasmedo, covardiapreguiça e comodismo.
Passos longos cansam, a verdade amedronta e a vida segue mergulhada na inércia.
Teu sorriso é mascara tatuada e suas lágrimas resultado de escolhas cegas.

slsjr
#apartirdeuminstante

domingo, 3 de janeiro de 2016

Opção. Razão.


#apartirdeuminstante

Exorcizando demônios

Escrevendo, vou exorcizando meus demônios: É quando digo o quanto te amo e o quanto quero que você se foda. É quando eu digo o quanto te quero e o quanto você me faz mal. É quando eu grito para que possa me ouvir mesmo de longe e quando sussurro para convencer a mim mesmo que estou vivo. É quando eu me trato sem remédios ou curativos. É quando eu morro para renascer. É quando me resolvo, tiro minhas conclusões e entendo momentaneamente que não preciso de nada que me falta. É o meu monólogo, a minha carreira solo nessa vida em que, mesmo em meio a uma multidão, no fim das contas, percebemos que somos apenas nós e nada mais.


Exorcizando meus demônios, eu me limpo por dentro, me fortaleço por fora, sigo matando o que tenta me matar, derrubando as paredes que tentam me cercar, deixando para trás o que tenta de forma mal intencionada me abraçar.

Exorcizando meus demônios, eu finjo olhar na tua cara, quando, na verdade, eu vejo através da sua derme o quanto oca é a alma tua.

Exorcizando meus demônios, eu vou adorando essa merda toda, essa falta de amor, de pureza, de caráter, de gentileza. Exorcizando meus demônios, eu reencarno para começar tudo novamente, dia após dia.

slsjr
#apartirdeuminstante

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Outro mundo

Outro mundo (slsjr)

Não conheci o outro mundo por querer.
Ele chegou sem dizer “olá”.
Meteu o pé na porta, surpreendendo, mostrando que muito ainda estaria por vir, que as experiências anteriores não eram nada, que não serviam e que não agregavam.


Não conheci o outro mundo por querer.
Ele chegou sem discrição.
Sem pena e sem cuidado deixou claro que o início de verdade era ali e que agora sim as lições seriam úteis, válidas e principalmente necessárias.

#apartirdeuminstante

domingo, 1 de novembro de 2015

Bem fácil

Só é difícil quando acordo sabendo que não encontrarei meu sorriso ao decorrer do dia.
Quando deito sabendo que não receberei aquele “boa noite”.

Só é difícil quando volto aos lugares onde fomos e imagino nós dois lá.
Quando conheço novos lugares e imagino como você gostaria deles.

Só é difícil quando ouço as canções que foram chamadas de nossa trilha sonora.
Quando tenho de ignorar os refrões em versos que escrevi pra ti.

Só é difícil quando alguém pergunta sobre nós.
Quando respondo sobre sua ausência nessa hora.

Só é difícil quando lembro que não preciso te esperar para adormecer.
Quando percebo que essa ausência agora é a minha companhia.

Só é difícil quando recordo tudo que foi dito.
Quando entendo que o “para sempre” foi uma temporada.

Só é difícil quando me perguntam sobre casamento e filhos.
Quando aceito que esses planos não me pertencem mais.

Só é difícil quando o fim de semana se aproxima.
Quando planejo o que fazer sem te incluir nos planos.

Só é difícil quando eu perco para meu tolo coração.
Quando aceito os fatos mesmo sabendo do que preciso.
Só é difícil quando me pego falando sozinho.
Quando tenho a certeza de que não tenho mais voz em você.

Só é difícil quando eu tento encontrar o erro.
Quando quero corrigir aquilo que não se conhece o defeito.

Só é difícil quando imagino meu futuro.
Quando sei que não será no meu lugar preferido.

Só é difícil quando vejo casais seguindo felizes e realizando sonhos.
Quando vejo meu sonho partir.

Só é difícil quando sinto falta das brincadeiras e provocações.
Quando sigo sem a mesma alegria de antes.

Só é difícil quando desejo voltar no tempo para sentir o primeiro beijo, aquele cheiro.
Quando sei exatamente como é e não ter mais.

Só é difícil quando vejo que hoje só existem lembranças.
Quando questiono se elas deveriam mesmo ocupar a biblioteca de minha memória.

Só é difícil por ser o amor da minha vida.
O resto é bem fácil.

slsjr
#apartirdeuminstante

A opção

A opção foi seguir pelo caminho menos dolorido, foi recusar as migalhas que eram oferecidas, foi passear por lares temporários até que novamente a terra firme pudesse se apresentar.

A opção foi fazer de conta que existia outro mundo para viver, onde as lembranças não existissem, onde tudo pudesse ser feito sem que o passado fosse o presente e ainda tentasse ser o futuro.


A opção foi ignorar a existência, foi proteger a memória de lembranças recentes, foi deixar lá atrás o que me deixou para trás, foi não estar perto de quem saiu de perto.


A opção foi viver o luto, encarar a abstinência, desligar os aparelhos, passar pelo coma e renascer nesse novo velho mundo.

A opção foi não esperar volta, foi olhar em volta, foi o silêncio de volta, foi a distância saudável ao coração que adoeceu.

A opção foi permitir o lado bom, foi enxergar de longe, foi refletir os passos, foi tirar lições, foi entender que ainda falta muito.

A opção foi entender que todo fim é um começo, que todo começo é uma nova chance, que toda chance precisa ser aproveitada e assim continuar passo a passo rumo a um novo episódio desse dramalhão Mexicano chamado vida.

slsjr
#apartirdeuminstante

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Fora do ar

Simular a saudade não era preciso. 
Fingir o choro não se fez necessário. 
Foi quando o tempo parou na voz tua, na presença tua, na ausência tua.


slsjr

domingo, 23 de agosto de 2015

Abraço derradeiro

Certa vezes até podemos olhar para trás, esticar os braços e novamente tocar aquilo que acabou de passar por nós. Mas se aquilo que passou foi definitivo, no máximo encontraremos a resistência do ar ao movimentarmos nosso corpo. 

O mais desesperador é saber que não existe nenhum controle sobre isso e que de uma hora para outra você simplesmente não vê mais, não sente mais, não encontra mais e que seu disco rígido natural é o único lugar onde aquilo que se foi permanece vivo. 

Mas se o vazio é sentido, certamente não era a hora do fim. Se a missão foi interrompida é porque ela ainda terá outros capítulos. 

Aprendi que somos instantes, mas que também somos intervalos, somos ciclos e vivemos muitas vezes para que um dia possamos encontrar o nível de evolução que precisamos para nunca mais mudar de dimensão. Tudo é um até breve até o abraço derradeiro.

slsjr

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Golpe

O golpe veio de onde menos se esperava.
Foi surpreendente e seco.

A primeira sensação foi de um terreno assolado.
Era escuro e ensurdecedor.

Me vi mergulhado em um oceano de águas sujas, me afogando em uma paz infernal, sentindo o corpo queimar pela chuva ácida em lágrimas torrentes.

O golpe soou como uma martelada certeira.
Foi direto e incontornável.
Mil réplicas não seriam suficientes para redirecioná-lo.
Era decidido e irremediável.

Me vi irreconhecível, um resquício de mim mesmo, um novo velho eu, com partes aqui, partes lá, olhando sem enxergar, escutando sem ouvir.

Num blackout as luzes se apagaram.
Num toque de recolher as portas bateram.
Num caos as janelas de fuga se fecharam.

Mas outros dias vieram.
A respiração voltou e uma nova canção tocou.
Sobrevivi.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cicatriz

E por aí deixei muitas partes de mim. Em lugares por onde passei, em contos que escrevi, em refrões que cantei, nas pessoas que amei.

E por aí restam algumas partes ainda. Os dias em que sorri, pessoas que conheci, paixões que vivi, dias que nem senti.

Hoje me virei do avesso para me enxergar plenamente, percebendo várias e gigantes lacunas que não se preencheram ao longo desses anos. Estar só, em meio a uma multidão, já deixa de ser um estado para ser aceito como a verdadeira forma de ser, crescer, viver e quem sabe morrer. Morrer sem saber, morrer sem querer, morrer sem deter essa avalanche descontrolada, inexplicável, irresponsável, cega, ingênua e também lúcida que ilumina um céu de escuridão. Avalanche que grita nos ouvidos, quebrando o silêncio, quebrando as regras, quebrando a banca, me quebrando.


De tantos buracos pareço uma peneira e, dessa forma, passam por mim todas as coisas que nem percebo, que nem imagino e que sonho não viver sem.

Sou aquela cicatriz feia, resultante das piores técnicas cirúrgicas.
Sou um andarilho no piloto automático.
Sou o peixe que jamais respira fora da água.

slsjr

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Já morri dezenas de vezes



Percebo a vida como uma eterna busca. Hoje buscamos o amanhã para depois lembrar do que conseguimos ontem, lembrar onde erramos, onde acertamos, onde demos o máximo e onde deixamos algo por fazer. Mas talvez uma das maiores buscas seja por respostas. As respostas consequentes das nossas escolhas, caminhos, erros e acertos.

Por muito tempo essas respostas podem permanecer escondidas, mas mesmo demorando, prestando atenção nos pequenos sinais, nos detalhes, o quebra-cabeça se forma e tudo faz sentido.

Hoje, enfim, eu entendi porque aquilo jamais poderia ser de verdade. Não me pertencia e pensar o contrário foi uma breve ilusão. Não fui merecedor pelos erros cometidos, pela forma errada em que interferi, pelo meu egoísmo em ser feliz a qualquer custo.

E então percebo a vida como uma escola, cabendo a mim assimilar e percorrer novos caminhos sem os mesmos passos em falso, sem a mesma cegueira, sem me fazer de surdo.
Que os dias voltem a ser vistos e sentidos. Que volte o ar que se tornou rarefeito, pois se existia um preço acredito que já tenha sido pago em muitas e altas prestações. Se existia uma lição acredito que ela já tenha sido aprendida em todas as suas formas.  

Está entendido, claro e límpido. 
Está arquivado, entranhado e absorvido. Caíram planos, sonhos, verdades, a entrega, a paz, a força e os sorrisos. 

Caiu o amor ao lado da máscara. 
Caiu do alto, ferindo, dificultando a cicatrização, prolongando a internação, adiando a alta do coração.

Sim, eu já morri dezenas de vezes. 
Já posso reencarnar então.

slsjr