sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cicatriz

E por aí deixei muitas partes de mim. Em lugares por onde passei, em contos que escrevi, em refrões que cantei, nas pessoas que amei.

E por aí restam algumas partes ainda. Os dias em que sorri, pessoas que conheci, paixões que vivi, dias que nem senti.

Hoje me virei do avesso para me enxergar plenamente, percebendo várias e gigantes lacunas que não se preencheram ao longo desses anos. Estar só, em meio a uma multidão, já deixa de ser um estado para ser aceito como a verdadeira forma de ser, crescer, viver e quem sabe morrer. Morrer sem saber, morrer sem querer, morrer sem deter essa avalanche descontrolada, inexplicável, irresponsável, cega, ingênua e também lúcida que ilumina um céu de escuridão. Avalanche que grita nos ouvidos, quebrando o silêncio, quebrando as regras, quebrando a banca, me quebrando.


De tantos buracos pareço uma peneira e, dessa forma, passam por mim todas as coisas que nem percebo, que nem imagino e que sonho não viver sem.

Sou aquela cicatriz feia, resultante das piores técnicas cirúrgicas.
Sou um andarilho no piloto automático.
Sou o peixe que jamais respira fora da água.

slsjr

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