domingo, 23 de agosto de 2015

Abraço derradeiro

Certa vezes até podemos olhar para trás, esticar os braços e novamente tocar aquilo que acabou de passar por nós. Mas se aquilo que passou foi definitivo, no máximo encontraremos a resistência do ar ao movimentarmos nosso corpo. 

O mais desesperador é saber que não existe nenhum controle sobre isso e que de uma hora para outra você simplesmente não vê mais, não sente mais, não encontra mais e que seu disco rígido natural é o único lugar onde aquilo que se foi permanece vivo. 

Mas se o vazio é sentido, certamente não era a hora do fim. Se a missão foi interrompida é porque ela ainda terá outros capítulos. 

Aprendi que somos instantes, mas que também somos intervalos, somos ciclos e vivemos muitas vezes para que um dia possamos encontrar o nível de evolução que precisamos para nunca mais mudar de dimensão. Tudo é um até breve até o abraço derradeiro.

slsjr

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Golpe

O golpe veio de onde menos se esperava.
Foi surpreendente e seco.

A primeira sensação foi de um terreno assolado.
Era escuro e ensurdecedor.

Me vi mergulhado em um oceano de águas sujas, me afogando em uma paz infernal, sentindo o corpo queimar pela chuva ácida em lágrimas torrentes.

O golpe soou como uma martelada certeira.
Foi direto e incontornável.
Mil réplicas não seriam suficientes para redirecioná-lo.
Era decidido e irremediável.

Me vi irreconhecível, um resquício de mim mesmo, um novo velho eu, com partes aqui, partes lá, olhando sem enxergar, escutando sem ouvir.

Num blackout as luzes se apagaram.
Num toque de recolher as portas bateram.
Num caos as janelas de fuga se fecharam.

Mas outros dias vieram.
A respiração voltou e uma nova canção tocou.
Sobrevivi.