terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Espinho de uma flor



Parecia um jardim de perfume singular. As cores e a paz eram o que jamais havia sido visto e sentido em qualquer outro lugar ou ocasião. Então eu a convidei a passear comigo por entre as flores do jardim, respirando o ar puro que nos cercava. O plano era alçar voos ao céu, ver o mundo de cima, com visão periférica, mas a vida escola te prega peças, te leva do céu ao inferno, desmascarando todas as meias verdades que te contam no dia a dia. Os dias sinceros, os sonhos aparentemente palpáveis, tudo se vai através de uma fresta no tempo, um espaço imensurável entre o tudo e o nada.

Se fosse possível escolher, a verdade deveria ser sempre a melhor camuflagem, pois não nos devolve ilusão, não nos devolve fragmentos, não nos devolve o que não existe.

A defesa das tristezas e mágoas me mantém aqui, pois lá já não existe nada. Foi temporário, foi conveniente, foi breve. Não foi concreto, não foi sólido, não foi o quadro que alguns traços iniciais de tinta fizeram parecer ser.


Mas foi confortável lá, um lugar singular, jamais sonhado encontrar. Era o livro com final feliz, o filme jamais visto, a música jamais composta. Era o que faltou a vida inteira, a plenitude verdadeira, a história de aparência derradeira. Foi o tudo no nada, foi o sorriso na lágrima, foi o sol na chuva. Foi a certeza na dúvida, a realidade no sonho, o longo no breve. Foi a perfeição no imperfeito, a dor na cura, o despertar no coma. Foi o espinho de uma flor.

slsjr