Parecia um jardim de perfume
singular. As cores e a paz eram o que jamais havia sido visto e sentido em
qualquer outro lugar ou ocasião. Então eu a convidei a passear comigo por entre
as flores do jardim, respirando o ar puro que nos cercava. O plano era alçar voos
ao céu, ver o mundo de cima, com visão periférica, mas a vida escola te prega
peças, te leva do céu ao inferno, desmascarando todas as meias verdades que te
contam no dia a dia. Os dias sinceros, os sonhos aparentemente palpáveis, tudo
se vai através de uma fresta no tempo, um espaço imensurável entre o tudo e o
nada.
Se fosse possível escolher, a
verdade deveria ser sempre a melhor camuflagem, pois não nos devolve ilusão,
não nos devolve fragmentos, não nos devolve o que não existe.
A defesa das tristezas e mágoas me
mantém aqui, pois lá já não existe nada. Foi temporário, foi conveniente, foi
breve. Não foi concreto, não foi sólido, não foi o quadro que alguns traços iniciais
de tinta fizeram parecer ser.
Mas foi confortável lá, um lugar
singular, jamais sonhado encontrar. Era o livro com final feliz, o filme jamais
visto, a música jamais composta. Era o que faltou a vida inteira, a plenitude
verdadeira, a história de aparência derradeira. Foi o tudo no nada, foi o
sorriso na lágrima, foi o sol na chuva. Foi a certeza na dúvida, a realidade no
sonho, o longo no breve. Foi a perfeição no imperfeito, a dor na cura, o
despertar no coma. Foi o espinho de uma flor.
slsjr