quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Outro mundo

Outro mundo (slsjr)

Não conheci o outro mundo por querer.
Ele chegou sem dizer “olá”.
Meteu o pé na porta, surpreendendo, mostrando que muito ainda estaria por vir, que as experiências anteriores não eram nada, que não serviam e que não agregavam.


Não conheci o outro mundo por querer.
Ele chegou sem discrição.
Sem pena e sem cuidado deixou claro que o início de verdade era ali e que agora sim as lições seriam úteis, válidas e principalmente necessárias.

#apartirdeuminstante

domingo, 1 de novembro de 2015

Bem fácil

Só é difícil quando acordo sabendo que não encontrarei meu sorriso ao decorrer do dia.
Quando deito sabendo que não receberei aquele “boa noite”.

Só é difícil quando volto aos lugares onde fomos e imagino nós dois lá.
Quando conheço novos lugares e imagino como você gostaria deles.

Só é difícil quando ouço as canções que foram chamadas de nossa trilha sonora.
Quando tenho de ignorar os refrões em versos que escrevi pra ti.

Só é difícil quando alguém pergunta sobre nós.
Quando respondo sobre sua ausência nessa hora.

Só é difícil quando lembro que não preciso te esperar para adormecer.
Quando percebo que essa ausência agora é a minha companhia.

Só é difícil quando recordo tudo que foi dito.
Quando entendo que o “para sempre” foi uma temporada.

Só é difícil quando me perguntam sobre casamento e filhos.
Quando aceito que esses planos não me pertencem mais.

Só é difícil quando o fim de semana se aproxima.
Quando planejo o que fazer sem te incluir nos planos.

Só é difícil quando eu perco para meu tolo coração.
Quando aceito os fatos mesmo sabendo do que preciso.
Só é difícil quando me pego falando sozinho.
Quando tenho a certeza de que não tenho mais voz em você.

Só é difícil quando eu tento encontrar o erro.
Quando quero corrigir aquilo que não se conhece o defeito.

Só é difícil quando imagino meu futuro.
Quando sei que não será no meu lugar preferido.

Só é difícil quando vejo casais seguindo felizes e realizando sonhos.
Quando vejo meu sonho partir.

Só é difícil quando sinto falta das brincadeiras e provocações.
Quando sigo sem a mesma alegria de antes.

Só é difícil quando desejo voltar no tempo para sentir o primeiro beijo, aquele cheiro.
Quando sei exatamente como é e não ter mais.

Só é difícil quando vejo que hoje só existem lembranças.
Quando questiono se elas deveriam mesmo ocupar a biblioteca de minha memória.

Só é difícil por ser o amor da minha vida.
O resto é bem fácil.

slsjr
#apartirdeuminstante

A opção

A opção foi seguir pelo caminho menos dolorido, foi recusar as migalhas que eram oferecidas, foi passear por lares temporários até que novamente a terra firme pudesse se apresentar.

A opção foi fazer de conta que existia outro mundo para viver, onde as lembranças não existissem, onde tudo pudesse ser feito sem que o passado fosse o presente e ainda tentasse ser o futuro.


A opção foi ignorar a existência, foi proteger a memória de lembranças recentes, foi deixar lá atrás o que me deixou para trás, foi não estar perto de quem saiu de perto.


A opção foi viver o luto, encarar a abstinência, desligar os aparelhos, passar pelo coma e renascer nesse novo velho mundo.

A opção foi não esperar volta, foi olhar em volta, foi o silêncio de volta, foi a distância saudável ao coração que adoeceu.

A opção foi permitir o lado bom, foi enxergar de longe, foi refletir os passos, foi tirar lições, foi entender que ainda falta muito.

A opção foi entender que todo fim é um começo, que todo começo é uma nova chance, que toda chance precisa ser aproveitada e assim continuar passo a passo rumo a um novo episódio desse dramalhão Mexicano chamado vida.

slsjr
#apartirdeuminstante

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Fora do ar

Simular a saudade não era preciso. 
Fingir o choro não se fez necessário. 
Foi quando o tempo parou na voz tua, na presença tua, na ausência tua.


slsjr

domingo, 23 de agosto de 2015

Abraço derradeiro

Certa vezes até podemos olhar para trás, esticar os braços e novamente tocar aquilo que acabou de passar por nós. Mas se aquilo que passou foi definitivo, no máximo encontraremos a resistência do ar ao movimentarmos nosso corpo. 

O mais desesperador é saber que não existe nenhum controle sobre isso e que de uma hora para outra você simplesmente não vê mais, não sente mais, não encontra mais e que seu disco rígido natural é o único lugar onde aquilo que se foi permanece vivo. 

Mas se o vazio é sentido, certamente não era a hora do fim. Se a missão foi interrompida é porque ela ainda terá outros capítulos. 

Aprendi que somos instantes, mas que também somos intervalos, somos ciclos e vivemos muitas vezes para que um dia possamos encontrar o nível de evolução que precisamos para nunca mais mudar de dimensão. Tudo é um até breve até o abraço derradeiro.

slsjr

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Golpe

O golpe veio de onde menos se esperava.
Foi surpreendente e seco.

A primeira sensação foi de um terreno assolado.
Era escuro e ensurdecedor.

Me vi mergulhado em um oceano de águas sujas, me afogando em uma paz infernal, sentindo o corpo queimar pela chuva ácida em lágrimas torrentes.

O golpe soou como uma martelada certeira.
Foi direto e incontornável.
Mil réplicas não seriam suficientes para redirecioná-lo.
Era decidido e irremediável.

Me vi irreconhecível, um resquício de mim mesmo, um novo velho eu, com partes aqui, partes lá, olhando sem enxergar, escutando sem ouvir.

Num blackout as luzes se apagaram.
Num toque de recolher as portas bateram.
Num caos as janelas de fuga se fecharam.

Mas outros dias vieram.
A respiração voltou e uma nova canção tocou.
Sobrevivi.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cicatriz

E por aí deixei muitas partes de mim. Em lugares por onde passei, em contos que escrevi, em refrões que cantei, nas pessoas que amei.

E por aí restam algumas partes ainda. Os dias em que sorri, pessoas que conheci, paixões que vivi, dias que nem senti.

Hoje me virei do avesso para me enxergar plenamente, percebendo várias e gigantes lacunas que não se preencheram ao longo desses anos. Estar só, em meio a uma multidão, já deixa de ser um estado para ser aceito como a verdadeira forma de ser, crescer, viver e quem sabe morrer. Morrer sem saber, morrer sem querer, morrer sem deter essa avalanche descontrolada, inexplicável, irresponsável, cega, ingênua e também lúcida que ilumina um céu de escuridão. Avalanche que grita nos ouvidos, quebrando o silêncio, quebrando as regras, quebrando a banca, me quebrando.


De tantos buracos pareço uma peneira e, dessa forma, passam por mim todas as coisas que nem percebo, que nem imagino e que sonho não viver sem.

Sou aquela cicatriz feia, resultante das piores técnicas cirúrgicas.
Sou um andarilho no piloto automático.
Sou o peixe que jamais respira fora da água.

slsjr

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Já morri dezenas de vezes



Percebo a vida como uma eterna busca. Hoje buscamos o amanhã para depois lembrar do que conseguimos ontem, lembrar onde erramos, onde acertamos, onde demos o máximo e onde deixamos algo por fazer. Mas talvez uma das maiores buscas seja por respostas. As respostas consequentes das nossas escolhas, caminhos, erros e acertos.

Por muito tempo essas respostas podem permanecer escondidas, mas mesmo demorando, prestando atenção nos pequenos sinais, nos detalhes, o quebra-cabeça se forma e tudo faz sentido.

Hoje, enfim, eu entendi porque aquilo jamais poderia ser de verdade. Não me pertencia e pensar o contrário foi uma breve ilusão. Não fui merecedor pelos erros cometidos, pela forma errada em que interferi, pelo meu egoísmo em ser feliz a qualquer custo.

E então percebo a vida como uma escola, cabendo a mim assimilar e percorrer novos caminhos sem os mesmos passos em falso, sem a mesma cegueira, sem me fazer de surdo.
Que os dias voltem a ser vistos e sentidos. Que volte o ar que se tornou rarefeito, pois se existia um preço acredito que já tenha sido pago em muitas e altas prestações. Se existia uma lição acredito que ela já tenha sido aprendida em todas as suas formas.  

Está entendido, claro e límpido. 
Está arquivado, entranhado e absorvido. Caíram planos, sonhos, verdades, a entrega, a paz, a força e os sorrisos. 

Caiu o amor ao lado da máscara. 
Caiu do alto, ferindo, dificultando a cicatrização, prolongando a internação, adiando a alta do coração.

Sim, eu já morri dezenas de vezes. 
Já posso reencarnar então.

slsjr

sexta-feira, 20 de março de 2015

Perder e ganhar


A vida não espera por você, dando e tirando numa fração de segundos, nos fazendo seguir sem aquilo que achávamos que não poderíamos viver sem. Não por escolha, mas sim porque tem de ser.
Amanhã você pode ganhar novamente para depois perder e esse é o jogo, essa é a dança, essa é a natureza, nas idas e vindas, nos sorrisos e lágrimas, no perder e ganhar.

A inércia sempre tenta te levar, o desalento tenta te consumir, mas na tua fé, resiliente, você deixa para trás as fraquezas, um foda-se debochado e um sorriso de canto de boca para o que tentou te jogar ao chão e mesmo que seja em pedaços, mesmo incompleto, mesmo magoado você segue.

E no transcorrer dessa parábola, ao teu lado estarão aqueles que de fato se importam com você e mais distantes aqueles cujo sua companhia foi conveniente por um tempo determinado.
slsjr
 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Espinho de uma flor



Parecia um jardim de perfume singular. As cores e a paz eram o que jamais havia sido visto e sentido em qualquer outro lugar ou ocasião. Então eu a convidei a passear comigo por entre as flores do jardim, respirando o ar puro que nos cercava. O plano era alçar voos ao céu, ver o mundo de cima, com visão periférica, mas a vida escola te prega peças, te leva do céu ao inferno, desmascarando todas as meias verdades que te contam no dia a dia. Os dias sinceros, os sonhos aparentemente palpáveis, tudo se vai através de uma fresta no tempo, um espaço imensurável entre o tudo e o nada.

Se fosse possível escolher, a verdade deveria ser sempre a melhor camuflagem, pois não nos devolve ilusão, não nos devolve fragmentos, não nos devolve o que não existe.

A defesa das tristezas e mágoas me mantém aqui, pois lá já não existe nada. Foi temporário, foi conveniente, foi breve. Não foi concreto, não foi sólido, não foi o quadro que alguns traços iniciais de tinta fizeram parecer ser.


Mas foi confortável lá, um lugar singular, jamais sonhado encontrar. Era o livro com final feliz, o filme jamais visto, a música jamais composta. Era o que faltou a vida inteira, a plenitude verdadeira, a história de aparência derradeira. Foi o tudo no nada, foi o sorriso na lágrima, foi o sol na chuva. Foi a certeza na dúvida, a realidade no sonho, o longo no breve. Foi a perfeição no imperfeito, a dor na cura, o despertar no coma. Foi o espinho de uma flor.

slsjr

sábado, 31 de janeiro de 2015

Eu não sei lidar

 
Eu não sei lidar, lidar em receber apenas uma pequena parte, em não ser a prioridade, a primeira opção. Eu não sei lidar, lidar em ser apenas mais um, em não poder entregar tudo, em ter que me manter por aqui.
Eu não sei lidar, lidar por ter sido apenas uma passagem em seu pensamento, em não ter moradia plena, em ter sido despejado ao amanhecer. Eu não sei lidar, lidar com o gelo que substituiu a chama, com o abismo que se sobrepôs a saudade, com a vida após a despedida.
Eu não sei lidar, lidar com os dias pela metade, com o ar rarefeito, com o silêncio ensurdecedor. Eu não sei lidar, lidar com a escassez dos sorrisos, com as lacunas se transformando em crateras, com um corpo que adoece pela falta da sua droga.



Eu não sei lidar, lidar com a noite que cai vazia, com o amanhecer que surge sem o despertar, com as madrugadas de repouso imperfeito. Eu não sei lidar, lidar com a racionalidade que perde para o emocional, com a estupidez de um coração tolo, com a miopia de um olhar cego.
Eu não sei lidar, lidar com a inexistência do sonho, com o abandono da missão, com o fato de me tornar desnecessário. Não, eu não sei lidar com o que escrevo, canto ou digo. Não sei lidar com a indecisão, se vou ou se fico. Não sei lidar com a perda, com a porrada, por ter perdido.
Tentativas em vão, dizendo não, desafiando a razão. Não, eu não sei lidar, lidar com as memórias, com a prisão, por ser novamente incompleto.

slsjr

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Caiu e deixou quebrar.


Pensei em escrever pra ti, contar como ando, o que penso e como me sinto. Pensei em te lembrar dos nossos dias, das nossas noites, da nossa longa breve história. Pensei em te pedir desculpas pelo que não fiz e perdoar ao que não se pediu perdão. Pensei em te oferecer novamente o meu tempo, minhas palavras, minha vida.

Pensei em te encaminhar o último poema que escrevi, em tocar as canções que são suas em todas as estrofes e refrões. Pensei em fazer-te lembrar de como disse que seriam os nossos dias, dos nomes que escolhemos e das frases que eram nossas. Pensei em repetir tudo que tantas vezes você ouviu ou leu.
Pensei em reproduzir a nossa trilha sonora enquanto tudo que eu fazia era te amar.


Pensei em tantas coisas que foram feitas e até nas que ficaram por fazer. Pensei em te dizer o que nunca se traduziu em palavras, em novamente deixar que fosse visto através dos olhos, sentido em meu batimento cardíaco. Pensei em propor mais uma vez tudo que fosse possível para um roteiro de final feliz.

Por fim eu lembrei que não há para quem escrever, tocar, falar, fazer lembrar. Foi sonho, foi névoa. Caiu e deixou quebrar.

slsjr

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Saudade de mim


 
Saudade de esperar ansiosamente pelo dia seguinte, de saber que muitos sorrisos estavam por vir, de querer correr para aproveitar mais de cada momento. Saudade de querer parar o relógio, de querer estender as noites e dias, de não querer a despedida. Saudade de cada reencontro, de cada renascimento, de cada lugar que foi mágico.

Saudade de observar em segredo uma beleza rara, de fechar os olhos sabendo o que eles iriam encontrar ao amanhecer, de adormecer como se dois corpos fossem um. Saudade de acompanhar de perto, de ser necessário, de fazer parte. Saudade do inédito, de cada redescobrimento, de cada novo significado que surgia a cada dia.
 
Saudade de ser o anjo, de ser o suporte, de ser, entre tantas outras opções, a direção escolhida nos momentos de imperfeição da vida. Saudade de querer voltar imediatamente após o “até logo”, de ter o que não se podia imaginar, de não perceber que a vida é tão complicada assim.

Saudade de ver a cor que não se enxerga, de sentir o que não se sente, de viver um faz de contas. Saudade das mil fotografias, das risadas altas e espontâneas, das provocações e parceria que ornamentavam a vida. Saudade do que nem chegou a ser, de tudo que ficou por fazer, dos segundos, minutos, dias, meses e anos ainda por viver.

Saudade dos sonhos, dos planos, da plenitude, da leveza, do frescor, do que se foi e do que deixei ir. Saudade de mim enquanto invento que tudo ainda está aqui.

(slsjr)

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Ontem


As cores mais alegres estiveram aqui, substituindo o preto e branco. O ar deixava de ser rarefeito para se tornar puro e farto. Os dias eram aguardados como grandes eventos e qualquer lugar era especial.

Não havia espaço para obstáculos ou barreiras. O caminho era certo, claro e decidido. Era qualquer um onde as mãos pudessem caminhar juntas para qualquer direção, a qualquer hora, a qualquer dia.

Pouco importava se era dia ou noite, longe ou perto, frio ou calor. Nada fazia diferença, pois o prazer daquela companhia tornava todo resto imperceptível, sem importância, sem destaque.
Era o melhor cheiro, o melhor gosto, a melhor sensação e o melhor quadro, aquele jamais pintado por mãos deste plano em que vivemos.
Era tudo que jamais havia sido vivido, imaginado ou esperado. Era o que preenchia todas as lacunas de tristeza, os espaços e as imperfeições que faziam parte do coração que havia sido roubado pelo outro, que o completava. Era a cura para a dor natural, para o coma, para o desalento, para a falta de fé.

Era o tempo que não bastava e o frio na barriga. Era a droga mais perfeita, numa overdose de amor, paixão e desejo. Era a trégua para qualquer batalha e o melhor lugar para repousar, sonhando com a multiplicação de tudo que esteve por lá.
Era ontem e não hoje.

slsjr

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Névoa

E a história se repete. A procura não termina, porém nada é encontrado.
Lugares, pessoas, noites e dias que não trazem alento algum. 
Uma multidão é vista acompanhada por sorrisos e festas.
 
Por todo canto celebrações, ostentações, falsas verdades, verdadeiras mentiras e o vazio. Máscaras, maquilagem e companhias que nos acompanham apenas até quando for conveniente. Dormimos com tudo e acordamos sem nada, sem explicação, sem motivo, sem rumos, mas com lamentações, lacunas e mil perguntas sem respostas.
 
 
Resta apenas observar o sólido se dissipando, tornando-se apenas névoa que em nada lembra aquele sonho, aquele desejo, aquele sorriso.
Resta o silêncio que fala mais alto do que um tiro à queima roupa.
Restam as páginas incompletas e quadros sem todas as cores que poderiam ser usadas. Resta ouvir sobre o amor sem amar.
Resta esquecer o que te esqueceu e deixar desbotar.
 
slsjr