Eu
não sei lidar, lidar em receber apenas uma pequena parte, em não
ser a prioridade, a primeira opção. Eu não sei lidar, lidar em ser
apenas mais um, em não poder entregar tudo, em ter que me manter por
aqui.
Eu
não sei lidar, lidar por ter sido apenas uma passagem em seu
pensamento, em não ter moradia plena, em ter sido despejado ao
amanhecer. Eu não sei lidar, lidar com o gelo que substituiu a
chama, com o abismo que se sobrepôs a saudade, com a vida após a
despedida.
Eu
não sei lidar, lidar com os dias pela metade, com o ar rarefeito,
com o silêncio ensurdecedor. Eu não sei lidar, lidar com a escassez
dos sorrisos, com as lacunas se transformando em crateras, com um
corpo que adoece pela falta da sua droga.
Eu
não sei lidar, lidar com a noite que cai vazia, com o amanhecer que
surge sem o despertar, com as madrugadas de repouso imperfeito. Eu
não sei lidar, lidar com a racionalidade que perde para o emocional,
com a estupidez de um coração tolo, com a miopia de um olhar cego.
Eu
não sei lidar, lidar com a inexistência do sonho, com o abandono da
missão, com o fato de me tornar desnecessário. Não, eu não sei
lidar com o que escrevo, canto ou digo. Não sei lidar com a
indecisão, se vou ou se fico. Não sei lidar com a perda, com a
porrada, por ter perdido.
Tentativas
em vão, dizendo não, desafiando a razão. Não, eu não sei lidar,
lidar com as memórias, com a prisão, por ser novamente incompleto.
slsjr