sábado, 31 de janeiro de 2015

Eu não sei lidar

 
Eu não sei lidar, lidar em receber apenas uma pequena parte, em não ser a prioridade, a primeira opção. Eu não sei lidar, lidar em ser apenas mais um, em não poder entregar tudo, em ter que me manter por aqui.
Eu não sei lidar, lidar por ter sido apenas uma passagem em seu pensamento, em não ter moradia plena, em ter sido despejado ao amanhecer. Eu não sei lidar, lidar com o gelo que substituiu a chama, com o abismo que se sobrepôs a saudade, com a vida após a despedida.
Eu não sei lidar, lidar com os dias pela metade, com o ar rarefeito, com o silêncio ensurdecedor. Eu não sei lidar, lidar com a escassez dos sorrisos, com as lacunas se transformando em crateras, com um corpo que adoece pela falta da sua droga.



Eu não sei lidar, lidar com a noite que cai vazia, com o amanhecer que surge sem o despertar, com as madrugadas de repouso imperfeito. Eu não sei lidar, lidar com a racionalidade que perde para o emocional, com a estupidez de um coração tolo, com a miopia de um olhar cego.
Eu não sei lidar, lidar com a inexistência do sonho, com o abandono da missão, com o fato de me tornar desnecessário. Não, eu não sei lidar com o que escrevo, canto ou digo. Não sei lidar com a indecisão, se vou ou se fico. Não sei lidar com a perda, com a porrada, por ter perdido.
Tentativas em vão, dizendo não, desafiando a razão. Não, eu não sei lidar, lidar com as memórias, com a prisão, por ser novamente incompleto.

slsjr

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Caiu e deixou quebrar.


Pensei em escrever pra ti, contar como ando, o que penso e como me sinto. Pensei em te lembrar dos nossos dias, das nossas noites, da nossa longa breve história. Pensei em te pedir desculpas pelo que não fiz e perdoar ao que não se pediu perdão. Pensei em te oferecer novamente o meu tempo, minhas palavras, minha vida.

Pensei em te encaminhar o último poema que escrevi, em tocar as canções que são suas em todas as estrofes e refrões. Pensei em fazer-te lembrar de como disse que seriam os nossos dias, dos nomes que escolhemos e das frases que eram nossas. Pensei em repetir tudo que tantas vezes você ouviu ou leu.
Pensei em reproduzir a nossa trilha sonora enquanto tudo que eu fazia era te amar.


Pensei em tantas coisas que foram feitas e até nas que ficaram por fazer. Pensei em te dizer o que nunca se traduziu em palavras, em novamente deixar que fosse visto através dos olhos, sentido em meu batimento cardíaco. Pensei em propor mais uma vez tudo que fosse possível para um roteiro de final feliz.

Por fim eu lembrei que não há para quem escrever, tocar, falar, fazer lembrar. Foi sonho, foi névoa. Caiu e deixou quebrar.

slsjr

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Saudade de mim


 
Saudade de esperar ansiosamente pelo dia seguinte, de saber que muitos sorrisos estavam por vir, de querer correr para aproveitar mais de cada momento. Saudade de querer parar o relógio, de querer estender as noites e dias, de não querer a despedida. Saudade de cada reencontro, de cada renascimento, de cada lugar que foi mágico.

Saudade de observar em segredo uma beleza rara, de fechar os olhos sabendo o que eles iriam encontrar ao amanhecer, de adormecer como se dois corpos fossem um. Saudade de acompanhar de perto, de ser necessário, de fazer parte. Saudade do inédito, de cada redescobrimento, de cada novo significado que surgia a cada dia.
 
Saudade de ser o anjo, de ser o suporte, de ser, entre tantas outras opções, a direção escolhida nos momentos de imperfeição da vida. Saudade de querer voltar imediatamente após o “até logo”, de ter o que não se podia imaginar, de não perceber que a vida é tão complicada assim.

Saudade de ver a cor que não se enxerga, de sentir o que não se sente, de viver um faz de contas. Saudade das mil fotografias, das risadas altas e espontâneas, das provocações e parceria que ornamentavam a vida. Saudade do que nem chegou a ser, de tudo que ficou por fazer, dos segundos, minutos, dias, meses e anos ainda por viver.

Saudade dos sonhos, dos planos, da plenitude, da leveza, do frescor, do que se foi e do que deixei ir. Saudade de mim enquanto invento que tudo ainda está aqui.

(slsjr)

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Ontem


As cores mais alegres estiveram aqui, substituindo o preto e branco. O ar deixava de ser rarefeito para se tornar puro e farto. Os dias eram aguardados como grandes eventos e qualquer lugar era especial.

Não havia espaço para obstáculos ou barreiras. O caminho era certo, claro e decidido. Era qualquer um onde as mãos pudessem caminhar juntas para qualquer direção, a qualquer hora, a qualquer dia.

Pouco importava se era dia ou noite, longe ou perto, frio ou calor. Nada fazia diferença, pois o prazer daquela companhia tornava todo resto imperceptível, sem importância, sem destaque.
Era o melhor cheiro, o melhor gosto, a melhor sensação e o melhor quadro, aquele jamais pintado por mãos deste plano em que vivemos.
Era tudo que jamais havia sido vivido, imaginado ou esperado. Era o que preenchia todas as lacunas de tristeza, os espaços e as imperfeições que faziam parte do coração que havia sido roubado pelo outro, que o completava. Era a cura para a dor natural, para o coma, para o desalento, para a falta de fé.

Era o tempo que não bastava e o frio na barriga. Era a droga mais perfeita, numa overdose de amor, paixão e desejo. Era a trégua para qualquer batalha e o melhor lugar para repousar, sonhando com a multiplicação de tudo que esteve por lá.
Era ontem e não hoje.

slsjr

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Névoa

E a história se repete. A procura não termina, porém nada é encontrado.
Lugares, pessoas, noites e dias que não trazem alento algum. 
Uma multidão é vista acompanhada por sorrisos e festas.
 
Por todo canto celebrações, ostentações, falsas verdades, verdadeiras mentiras e o vazio. Máscaras, maquilagem e companhias que nos acompanham apenas até quando for conveniente. Dormimos com tudo e acordamos sem nada, sem explicação, sem motivo, sem rumos, mas com lamentações, lacunas e mil perguntas sem respostas.
 
 
Resta apenas observar o sólido se dissipando, tornando-se apenas névoa que em nada lembra aquele sonho, aquele desejo, aquele sorriso.
Resta o silêncio que fala mais alto do que um tiro à queima roupa.
Restam as páginas incompletas e quadros sem todas as cores que poderiam ser usadas. Resta ouvir sobre o amor sem amar.
Resta esquecer o que te esqueceu e deixar desbotar.
 
slsjr